Oct 17, 2010

O Cara da MellStreet Rose - A Crônica - Parte I

Essa é uma parte de uma crônica que estou desenvolvendo a partir da idéia do texto The Guy Of The Sunset. Não postarei as demais partes. Se quiser ler o restante aguarde até o fim do projeto. 
Eu estava caminhando tranquilamente por aquela praia meia boca que ficava perto da minha casa. Era meio de tarde e tudo estava incrivelmente calmo. Sentei perto de um quiosque, um dos últimos abertos e fiquei observando o tempo passar devagar entre as águas e as rochas esculpidas pelos anos. Eu tinha acabado de sair de casa e deixado dois pais raivosos discutindo no meio da sala. Eles não perceberam a minha saída e em pouco tempo o meu telefone iria tocar com um deles desesperado atrás de mim.  Uma gaivota cortou o céu agora com leves tons em corala tentando pescar alguma coisa já que os peixes estavam dispersos. Eu sorri de leve para a paisagem que mais parecia uma pintura. Eu amava aquele lugar, era tão único e peculiar, tão cheio de detalhes. Mas nada estava funcionando ali, pelo menos não para mim. E eu já estava ficando louca com isso. O pôr do Sol foi se chegando, do jeito de quem não quer nada e se acomodou no céu ao longe me deixando estasiada. 
O tom das conversas dentro do quiosque começou a ficar mais forte, mais alto. Eu olhei para trás, mas sem nada ver voltei minha atenção para o ar quente e úmido da praia. A voz do cara ficou na minha cabeça: "Ei Marcus, tudo bom? Que dia hoje hen...". Minha curiosidade entrou em sua altivez aguda e não me contive. Eu tinha que saber quem estava falando aquilo, com aquela voz, daquele jeito.
Me levantei da bancada alta que dava a escada da areia e fui timidamente para perto do bar do quiosque e pedi uma garrafa de água só para disfarçar. Ele estava de costas, olhando o mar e sentindo o cheiro em volta dele. Eu sabia que ele era bonito mesmo antes de ver o resto dele. Ele então se virou, sua face em ecstasy e olhou para mim com seus olhos verdes que me deixaram tonta, boba, inofensiva.

"Oi, tudo bem?" - Ele me disse sorrindo.

Sai do tranze ao ouvir sua voz grossa de locutor de rádio democrática mas que ao mesmo tempo era brincalhona e divertida. 

"Oi, tudo ótimo! E você?" - Tremi esperando a resposta
"Ótimo também! Você é daqui? Nunca te vi por esses quiosques" 

Eu parei para observá-lo de novo e me perdi nas palavras.

"Não... Quero dizer, sou sim. Eu fico nos quiosques do cais. Aquele mais a frente. Vim mais tarde hoje e esse é um dos poucos abertos"

Ele me olhou furtivamente de novo como se estivesse examinando-me por dentro para saber se estava dizendo a verdade e voltou a falar.

"Ah, entendo. Está de turismo por esse lado da praia. Então, pensa em voltar outros dias?"

Corei de forma que senti minhas bochechas arderem. Eu estava a menos de cinco minutos na frente dele e já estava perdendo a razão. "O que esse cara tem?", pensei. Mas pensar era algo que de fato eu não queria fazer no momento. Eu só queria olha-lo, analisa-lo para a eventualidade de nunca mais vê-lo e poder ter certeza de que poderia lembrar dele.

"Penso sim, claro. Adorei a vista da praia desse ponto. É linda."
"É ótimo mesmo. A propósito, eu me chamo Théo"  

Ele estendeu a mão e fez um movimento gracioso com o braço. Com isso minhas borboletas começaram a voar e senti uma vertigem de dois segundos que passou assim que toquei a mão dele.

"Ah, meu nome é Bianca" - Sorri para ele sem jeito.

Assim que terminei a frase ele me puxou de leve no braço e disse:

"Tenho que mostrar um lugar aqui atrás na areia antes de anoitecer para você. Isso vai te fazer voltar amanhã" - Ele deu um riso suave e me conduziu até o lugar. Eu o segui bobamente até um conjunto de rochas disformes que se podia ver o pôr do Sol de uma forma tão privilegiada que chegava a ser idiota.

"Vamos, sente-se ai." - Ele se acomodou em cima da pedra e me ajudou a subir até o topo me erguendo com o braço. 

Eu senti ao lado dele e contemplei o céu vermelho-alaranjado mais lindo que já tinha visto na vida. O Sol queimava no mar deixando um reflexo gigantesco na água cristalina da praia MellStreet Rose. Ele sorria como se pudesse ver algo além do meu entendimento e da minha visão atingida pelos raios luminosos. Eu tentei seguir seu olhar até o ponto mais longo perto da outra parte da cidade que se encontrava depois da estrada Roial Road. Não vi nada, só miniaturas de casas e prédios que se formavam ao longe por conta da distância. 

"Eu adoro sentar aqui pra contemplar essas coisas. Não sei como você gosta de ficar no cais. Lá a visão é tão desprivilegiada!" - Ele falou isso ainda olhando para o seu foco invisível.
"É que eu já me acostumei a ficar lá" - Respondi.
"Você deveria mudar. Eu posso te trazer aqui sempre que quiser. Até nos dias nublados." - Ele sorriu, como se 'dias nublados' fossem coisas que não existissem. 
"É uma proposta ótima mas você acabou de me conhecer. E bom, tem o cais... Não posso deixar de ir para lá. Lá é bom também."

Eu estava tendo uma pseudo-discussão com um cara que havia conhecido a menos de meia hora. Dei um riso baixo quando pensei naquilo.

"Mas aqui tem essa visão linda!" - Ele insistiu.
"Bom, vamos fazer assim; eu volto aqui amanhã e você vai ter que me convencer que aqui é melhor que o cais. Se você conseguir eu passo a vir aqui sempre. O que acha?" - Eu o olhei com uma cara de "aceita por favor" e ele me devolveu um sorriso.
"Ok, combinado. Vou convencer você antes que você perceba." Ele piscou me deixando tonta novamente.
"Eu vou querer ver isso! Agora tenho que ir. Daqui a poucos minutos vai escurecer. Então, amanhã aqui no mesmo horário." - Falando isso levantei da pedra, apertei a mão dele e disse: "Foi um prazer"

Ele retribuindo o aperto de mão disse "Amanhã" e voltou a olhar o ponto invisível. Eu voltei para casa com a cabeça em meio a turbilhões e sorrisos nervosos. O que eu havia feito?

Desculpe se há algum erro no texto. Ainda será editado.


1 comentários:

Marian Garcia said...

serio, vou ser sincera... Eu amo, cada texto que voce coloca aqui... Voce ja penso em ser escritora? Por que eu acho que voce se sairia muito bem nessa area ^^
Voce transmite muito em poucas palavras sabia?
Beijos ;*

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