Oct 31, 2012

O dia em que houve dois verões.

A bagagem posta no porta malas, uma última olhada para o horizonte e o Sol que queimava na água enquanto se punha. Um abraço de adeus e a certeza de, talvez, nunca mais voltar.
Ela sabia que todos aqueles últimos momentos, aqueles últimos minutos calculados da sua juventude estavam se esvaindo rápido, como areia no vento. Queria alguns sorrisos, desejos de boa sorte e músicas para ouvir enquanto a estrada a levava ao fim e ao começo. Seus amigos com olhos marejados, calados, a vendo partir. Partindo para uma nova etapa da vida, uma sequência, que para ela passou mais rápida do que para todos os outros. Afinal, ela sempre esteve a frente de sua idade, muito mais madura do que a mente infantil e adolescente diziam, e que por muitas vezes ainda a assustava.
Tudo era novo e velho ao mesmo tempo. O apego com o passado doía, nomes de pessoas importantes passavam pela sua mente como créditos de um filme muitíssimo bom, mas que só fora reproduzido uma vez. Fazendo com que ela se esforçasse para que a mente guardasse cada pequeno detalhe, cada coisa boa, cada alegria, cada tristeza. O medo da não aceitação do futuro para com ela mesma ainda era parte de uma personalidade ora forte, ora teimosa e abalada pela ansiedade de viver tudo no tempo dela. Um tempo além do seu entendimento, porém, que ela nunca cansava de se jogar de cabeça para descobrir através da queda livre quantos sustos perante uma morte em vida a fariam temer o desconhecido verdadeiramente.
Seus anos de profundas mudanças, de autoconhecimento e descobrimento de um amor próprio quase extinto. Três anos que marcados a ferro na carne de alguém como experiências, suprem a necessidade de se encontrar, levando a uma introspecção complicada, onde se ri e se chora por querer tudo aquilo de novo. Todos aqueles momentos irresponsáveis, sofrendo por coisas tão banais quanto a insuficiência de seguir em frente. Ela se questiona, olhando para a paisagem além da janela do veículo, se somente ela sentia aquilo. Uma vontade constante do passado e do futuro, desprezando as vezes a vivacidade de um presente tão a porta, tão sutil e inconscientemente marcante. 
Após tantos anos se despedindo de mais pessoas do que gostaria, mudando de meio social, cidade, bairros, ela pensa se tudo aquilo teria valido a pena. Agora, sentindo o profundo significado do adeus, ela percebe que a estrada é longa, sinuosa, e ao mesmo tempo que estamos acompanhados, estamos sozinhos. Cada um com seu caminho, cruzando vidas, saindo delas. Até o fim.
Ir embora mais uma vez foi se tornando difícil, talvez quando era criança se apegava menos, pensava menos, superava mais. Agora, lembrar de pessoas que marcaram momentos decisivos de sua vida a fez querer passar um blur na imagem para que não machucasse tanto, para que aquelas pessoas fossem as mesmas outras pessoas que ela conheceria mais a frente. 
Pensar que se está crescendo é como uma meditação, lenta e gradual até o estado pleno onde tudo faz sentido, onde tudo é verdade, pelo menos para você naquele momento. Mas saber plenamente sobre o que acabou e entender o motivo de seguir em frente é assustador. Você já não sabe o que é, somente o que foi, e teme em errar em ser alguém futuramente. 
Enquanto ela olhava a estrada um filme rodava, as lágrimas corriam, e os caminhos se criavam a frente. A primeira vista confusos, tomando forma calmamente e o que ficou pra trás paralisou-se, como fotografias de um tempo bom. Um tempo que não voltaria mais.
Ela sabia, naquele momento que entre ela e o que havia de vir não existia mais o véu da incerteza, ou a máscara da insegurança. Sabia também que todas as vezes que quisesse voltar ela poderia. Mas não na forma real, não do jeito como fora. Mas nas fantasias dos seus sonhos e das suas lembranças. Ao dirigir seu caminho a rumos mais amplos abriria espaço para mais coisas, mais sonhos, e esperanças. E que empacotar as coisas e ir embora dá a liberdade suficiente para caminhar entre os dois mundos. O que foi e o que será. E ao mesmo tempo que dá autonomia para que com as letras certas, possa se escrita uma boa história. 
Sep 30, 2012

Tabacaria - Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Iniciativa de postar isso aqui após assistir ao vídeo da Tati F. sobre Fernando Pessoa.

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?


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Jun 15, 2012

Not this type of girl, boy or zombie.

Parece difícil querer avançar o caminho quando a sua frente não há um trilha, um espaço claro nas folhagens ou pães jogados pelo chão para poder chegar aonde se quer e se encontrar. Então ficamos parados como presas do destino receosas e quase devoradas pelo tempo. As vezes nem na teoria as coisas são simples, e tudo o que nos resta além de especular no que poderia/poderá dar certo e duvidar se aquilo que escolhemos para nós mesmo nos fará bem e feliz até o fim, ou não. Se encontrar é difícil e encontra-se é tipicamente dessas tarefas para aqueles que na vida tem bom faro, pois sabemos que há quem morra a beira da loucura em tentar descobrir quem era e para que estava aqui. 
Talvez seja por isso que há tantas pessoas ganhando dinheiro em cima do auto descobrimento difícil de outros indivíduos. Oferecendo soluções e fórmulas que para cada ser agem de formas tão necessariamente diferentes. Eu não condeno os título da pratilheira de auto-ajuda, afinal, todos precisamos ganhar algum dinheiro e a parcela daqueles que escrevem coisas realmente inteligentes e úteis, se filtradas, é maior do que aqueles que aproveitam da fraqueza do outro em decidir por si o que lhe valerá na vida; e é isso que eu reprovo. 
Passamos parte de nossas vidas tendo que sentir coisas/valores/pessoas/empregos/estudos sendo empurrados por nossas gargantas nos deixando tão potencialmente 'entalados' demais para retificar. Mas tudo pode ser peneirado e aproveitado, caso a pessoa esteja apta e disponível a fazer isso. O ser humano obtêm de um grito de liberdade preso dentro de si desde que é gerado, tanto que a primeira coisa que fazemos é lutar para sairmos de nossas mães para o mundo. Todos buscamos ser livres em alguma área de nossas vidas desde então. Seja ela uma opção sexual, religiosa, anos em um colégio/faculdade que você deteste, um chefe estúpido que mal lhe paga e muito lhe exige, um relacionamento mal estruturado, não importa. Por menor que seja essa necessidade, ela existe e está tanto em você, quanto em mim, ou no Papa ou em um zumbi, mesmo que eles talvez não existam. 
Não podemos ser o tipo de garota, garoto ou zumbi que passa a vida inteira numa falsa busca por nós mesmos e nossos objetivos. As coisas só acontecem por quem faz elas acontecerem. E não adianta dizer que você já trabalha ou estuda demais para buscar algo assim. Expor isso demonstra um(a) workaholic do externo e um eterno (no vulgar) 'vadio' do interior de si mesmo. E acredite, se largar por dentro é muito, muito pior. Quando tudo fizer sentido você entenderá que foi ai que se encontrou, e quando isso acontecer você consequentemente sentirá que valeu a pena.
Jun 6, 2012

Miscelânea do ego e do eu.

Sou uma ilíada, um veraneio constante e sem destino. Algo que está aprisionado e livre ao mesmo tempo, um ser sem definição ou característica fatídica do seu eu. Um eremita assalariado pelo vida, alguém que nem se quer sabe ainda quem é de verdade. Um alguém com o Sol e lua em Virgem e ascendente em Escorpião, que se perde nas palavras da escrita seja ela nativa ou de outra nação. Ser curioso e mimado pelos bons costumes e complexos desafios. Alguém que procurou respostas nos sentimentos, que hoje os sente e no momento vê tudo tão sem sentido e lindo. Uma nota de piano mal tocado, uma noite perdida em casa e ganha nas páginas dos livros e cenas de filmes. Alguém que já pensou em ensinar por profissão, viajar por gosto ganhando com isso, ser pediatra, cantar em banda de 'rock' e desvanear pelos horizontes de uma história fantástica escrita por si mesma. Sou um ser que tanto se defini que quando lê o que foi escrito torço o nariz e digo a mim mesma que nada daquilo é verdade e que é tudo o que eu queria ser (e sou) está aprisionado em baixo da última camada de pele sobre músculos e nervos. Um ser que ainda não leu Clarisse Lispector ou Dostoiévski e não se deu ao luxo de um clássico de William, o Shakespeare. Ouve banda indie em tempos de sufoco, foge mentalmente pro continente asiático sempre que pode e força, mesmo sem saber, umas frases tronchas em coreano e japonês. Bebe chá de Erva Doce como água, acha pinturas com mulheres vitorianas um retrato do céu e tem no título de Charlotte Brontë (mulher talentosíssima) - Jane Eyre o seu mundo particular, um lugar onde ela gostaria de estar sempre que fechasse os olhos para meditar.
Sou um ser que já se perguntou demais, duvidou demais, decepcionou-se demais, foi feliz demais e sabe que mesmo com tantos demais em um texto de alguém com menos de 20, é realmente de mais e também apenas o começo. Guarda dentro de uma garrafa invisível o sonho de um filho que já até tem nome e que eu nem me importaria, que se acaso o destino quisesse, ele viesse em um frasquinho sem remetente escrito, só pra me fazer feliz. Também ao mesmo tempo que penso isso, de ser sozinha sabe, vivo cantarolando pelos cantos bem babona, bem bacaca (como dizem os avós) a respeito de um cara mais novo que me ganhou, que fez morada em um grande espaço de um coração bagunçado mesmo que dentro do peito de uma virginiana organizada e 'certinha demais' (tudo para nós é demais, percebe-se). Ao fim da vida ainda não tenho respostas, só especulações e burburinhos, mas me adentro de orelha em pé para ouvi-los, esse é o mal de alguém que acredita em Cristo mas estuda misticismo que vê detalhes em lugares que mais ninguém vê e acha que entre essa linha tênue, ta tudo muito bom ta tudo muito bem.
May 1, 2012

Para quem eu chamo de amor.

Parece insano escrever aqui tudo o que já digo tão repetidamente para ti. E talvez você pense 'Por que raios ela está fazendo isso?'. E talvez, de certa forma, você não goste de ler textos mas peço que faça um esforço para ler esse, se puder. Eu gostaria de expor primeiramente o quão feliz eu sou/estou com você; não é papo de pessoa apaixonada, o que pode também ser pois estou nessa condição, mas é um fato bastante real, é como se pudesse sentir a felicidade exalando de mim, é algo que contagia, que me faz feliz em estar feliz e em lhe fazer feliz. Segundo, quero expor que até mesmo hoje, quase seis meses depois, estou surpresa por ter você comigo. Você é o meu '45 do segundo tempo', créditos ao Flávio, algo do tipo que a gente nunca acha que vai conseguir pelo motivo de todo tempo em que algo poderia acontecer já se passou mas a vida, ah a vida, nos surpreende milagrosamente. Tudo o que eu já pedi em oração a Deus e a todas as forças boas que atuam dentro e fora na Terra, está em você. Acredite, a sua forma de ser parece ter sido moldada para mim e eu digo isso incorporando tanto qualidades quanto defeitos. Após meus antigos e falhos relacionamentos percebi o quão estúpida era e reformulei todo o meu modo de ver o amor. O amor não é isso que todo mundo diz, como se ele fosse o 'bode expiatório' de todos os namoros/noivados/casamentos mal sucedidos. Isso que dizem é sentimento mal administrado, pensamento minúsculo e egoísta, um ponto de vista auto emocional em relação a própria satisfação pessoal de sentir algo além do usual. Mas isso não se aplica a você, estão esqueça. 
O amor pode ser muitas coisas, pode ser aplicado a várias pessoas e afins. Porém é uma eterna criança e sempre (e esse sempre se remete a toda a nossa vida) deverá ser administrado, guiado e educado por ninguém além de nós mesmos. Ao descobrir isso após fracassar nas vezes anteriores e após conhecer você, nada e nada mais foi igual novamente. Talvez alguém além de você leia isso e diga 'nossa, então ela encontrou o príncipe encantado'. Sim, encontrei. Mas isso depende do ponto de vista de cada pessoa. Eu olho para você e vejo que o meu príncipe encantado nunca precisará ser perfeito, ele só precisa ser você. Com as qualidades, defeitos, manias, jeitos e trejeitos que completam um conjunto perfeito em seus defeitos que eu quero ter por todo o tempo comigo. Nós tivemos 2 anos inteiros nos 'esbarrando' pelos mesmos corredores, convivendo no mesmo ambiente e somente no fim, quando talvez nosso inconsciente despertou para alertar 'Ei cara/garota, se você não fizer nada talvez nunca mais veja ela/e novamente'. Mas como foi-me dito 'Tudo tem seu tempo'. E para nós dois não foi diferente e eu não mudaria nada, nem mesmo uma palavra ou ação de tudo o que aconteceu, pois tudo me levou até aqui, me levou até você. 
Gostaria que soubesse que eu amo tudo em você, de verdade. Exatamente pelo fato de você conseguir juntar o que muitas pessoas passam a vida tentando: A beleza exterior com a interior. Confesso que morro de medo de um dia acordar e não ter mais o seu sorriso, não poder mais ver seu rosto sério quando está lendo/pensando/refletindo sobre alguma coisa, não saber mais de você os nomes dos carros bacanas e muito caros, o que foi lançado no ramo da tecnologia, ou talvez não ouvir mais você a dizer sobre um futuro bom e grande que podemos ter juntos. Dói pensar na possibilidade de você um dia fazer tudo isso com outra pessoa, definitivamente não gosto nem de pensar. Porém, agora estamos aqui juntos e espero que por um período além do eterno. Você é meu melhor amigo, a pessoa na qual quando preciso de um abraço, de uma palavra, de um conselho ou até mesmo contar um ideia sempre estará lá para me ajudar e ouvir. Eu sou absurdamente grata por isso, e quero que saiba que sou também essa pessoa na qual você pode contar para tudo nesse mundo. Não importa o quão impossível algo pareça, eu sempre vou estar do seu lado dando a força extra que talvez você precise para ver que nada nessa vida é tão impossível assim, pelo menos não para nós. Eu sou muito feliz contigo, nunca se esqueça disso. E nesses quase seis meses, mesmo que poucos, eu venho aprendendo a cada dia mais contigo e vou tendo mais certeza de que é contigo que eu quero estar sempre e para sempre. Eu te amo muito e desculpe-me pelo texto gigantesco (tem muito mais coisa que eu gostaria de escrever, porém, sei que ficaria massante demais ler 3 vezes mais do que isso  que acabei de escrever aqui rs).

"...with you I've found the key to open any door
I can feel my love for you growing stronger day by day
And I can't wait to see you again
So I can hold you in my arms"
Whitesnake - Is This Love?

Escrevi o texto ouvindo essa música do Whitesnake, e esse trecho descreve muitíssimo bem tudo o que foi escrito (se não acredita é só dar uma olhada no meu Last.fm rs.) Eu te amo, mais uma vez.