Amazing Because It Is


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Em algum lugar da Bretanha, segundo milênio a.C. 
Tudo parecia ruir ao nosso lado, saí da cabana ainda atordoada com o fogo que começara há minutos atrás e quase bloqueara minha saída. Escoltei Aryana e Elvia até conseguir chegar à parte da floresta que não estava em chamas, ainda a tempo de colocá-las na carroça que tentava fugir com parte da aldeia, mas quase sem sucesso. Não consegui subir e deixei meus olhos se perderem na curva até eles desaparecerem em meio às folhagens. Atordoando-me novamente corri procurando um local seguro para me esconder deles. Eram grandes e emitentes, em seus cavalos empunhavam espadas e cortavam sem pena a garganta de meus vizinhos e companheiros. Estava perdida, pensei.
Era a terceira vez no ano que eles apareciam dessa maneira, alegando que nós não éramos dignos de viver, que nossa crença era errada e obscura e que todos nós devíamos morrer calados. Sempre fora assim, desde quando meus pais ainda eram meninos. Eu não os odiava; pois não se odeia ninguém. Mas eu não aguentava mais tudo aquilo.
O fogo se alastrou lambendo toda a tábua de madeira que ficou em cima da minha cabeça em um pequeno buraco no chão no qual me enfiei. Foi ficando quente demais para suportar e quando saí com minhas roupas já chamuscadas, Artur apareceu em um cavalo marrom e agarrou-me pela cintura. Segurei nele com toda a minha força, mas foi em vão, uma parte dos cavalheiros apareceu e nos cercou pelos quatro cantos. Artur tentou nos defender com uma madeira grande e pesada que ele havia encontrado no meio do caminho. Porém ao tomar a iniciativa de tirar a arma do inimigo já era tarde demais. O sangue quente em meu estômago começava a pulsar e meus olhos fixaram-se nos olhos do cavalheiro a minha frente.
        - Bonnie! – Ele gritou, e então jorrou de sua boca o líquido vermelho.
Vi então, que tudo havia acabado. O inimigo se aproximou por trás de nós e nos apunhalou. A espada atravessou nossas costas perfurando tudo, sem dor. Artur segurou a minha mão com força, como se quisesse se agarrar à vida. Segurei sua mão de volta como um pedido de socorro que nunca chegaria a ser ouvido. Tudo ficou confuso e já não enxergávamos nada. Minutos depois, sem mais hesitar, estávamos mergulhados na escuridão.

Vamos então expor os segredos. Tudo bem, se você não quiser falar é claro, até porque são segredos. Mas de uma forma ou de outra eu confesso que gostaria de saber. Hoje eu acordei com essa impressão de que você me esconde as coisas. Porém não por maldade, mas por plena convicção de que tudo na sua vida antes de me conhecer não tem a mera importância e que por isso eu não gostaria de saber. Saiba que está errado, querido. O sol nasceu amarelo na janela branca de madeira arando o piso suavemente até subir pela minha cama, dar um beijo de bom dia no meu rosto e finalmente tocar seu cabelo castanho fazendo-o brilhar e virar inocentemente um segundo sol, agora muito mais perto de mim e com calor dobrado. Eu sempre te achei esperto por ter escolhido o lado da cama no qual o sol chega por último e ainda por grande esperteza deitar de costas para a janela de forma que aquele pequeno filete caloroso não o incomode e o faça acordar.  Me disponibilizo metade de uma hora para olhar para você enquanto levanto, me arrumo, desenrolo o  cabelo que insensivelmente insiste em acordar desta maneira e me pergunto mais uma vez como, numa canção, sobre seus segredos. Eu gostaria sim de voltar alguns anos atrás por mais clichê e vintage que pareça, mas eu gostaria. Não que eu nunca quisesse ter te conhecido, é que na verdade eu gostaria de ter me preparado melhor para você. Talvez se eu já soubesse que haveria alguém como você me esperando no futuro, eu tivesse sido alguém melhor, alguém que você pudesse ver através da casca externa e assim quem sabe, eu tivesse encontrado você antes nesse passado no qual eu gostaria de voltar. Creio eu que agora estou sim atrasada, o relógio despertou pela enésima vez na cozinha e meu amor, se for tarde demais não voltarei a tempo. Porque nada soa tão bonito quanto quando ponho a minha chave na porta e você aparece atrás dela pronto a segurar meu cansaço se acaso eu precisar e dizer: 'Não quero saber sobre seu trabalho, fale-me sobre você...'. E nos deleitamos no sofá a sorrir, e voltamos a dormir até que no dia seguinte eu me pergunte novamente sobre os tais segredos que se escondem em você.

Hoje o dia amanheceu cinza, nada mais que o cinza e sua existência quebrada somente pelos filetes fracos de Sol que ainda lutam e relutam por expor sua beleza. Mas hoje, não mais do que hoje eles falharam. Honestamente eu estou andando pelas ruas dessa cidade por obrigação, pois nada me impulsiona já que não há a certeza se irei encontrar com você novamente naquela esquina. A canção em coro emana no meu coração pedindo quase que desesperadamente para esquecer você, e eu, assim como os filetes fracos do Sol, reluto por outra vez. 'Ele não quer nada com você' - mentira. 'Você não pode se apaixonar' - outra inverdade. E eu sigo, e eu espero e o céu está cinza. Eu poderia ter cruzado com você por inúmeras vezes, mas não aconteceu. E eu me pergunto se há motivos maiores para que só agora, nesse exato momento, onde nada mais faz sentido em assunto nenhum para mim, isso me acontece. Logo quando me proibi de ser sentimental, logo quando jogo a chave enferrujada do meu coração no pote empoeirado da prateleira da cozinha e não me há coragem de ir até lá para pegá-la de volta. E então eu entro no carro e ele dá a partida, e eu encontro o caminho entre minhas dúvidas mas eu ainda não sei se encontrarei com você. Se há lado injusto na dúvida, é justamente o fato de você simplesmente não saber, e ainda mais, de nem se quer imaginar como se portar diante de tal situação. A música repete pela décima terceira vez, e eu continuo a contar pois essa melodia mais do que qualquer outra me faz ter você ilusóriamente mais perto. E eu vejo você no banco ao lado, rindo para mim, segurando minha mão e beijando suavemente minha bochecha; e então eu olho de novo e ali naquele espaço é o frio que preenche tudo o que para mim poderia ser uma verdade. Sei que nunca saberá disso, e se um dia souber eu fico a imaginar que tipo de reação você teria. Uma risada? Um abraço reconfortante? Um beijo inesperado? E por mais que nesse dia cinza tudo esteja claro eu ainda caminho pela estrada escura de uma imensidão que por mais improvável que seja, gostaria de estar caminhando com você.

Passam-se os dias e desta vez mais devagar. Não se trata de mudar, somente de viver, de arrumar forma mais plena em se centralizar. Talvez seguir em frente ou manter-me sentada a esperar você nesse extenso gramado verde que cobre todo esse espaço do meu pensamento. E por mais que não tenha prometido a você nada mais do que agrupar em nós todos os nossos sentidos só para segurar sua mão enquanto você estiver pendurado no mesmo penhasco despencando e dizendo que só quer mergulhar para se divertir, eu ainda me disponibilizo para muito mais do que isso. E você sabe. Não querido, hoje não - eu digo. E as vezes você ignora, as vezes não, e as vezes larga a minha mão por espontaneidade e flutua, e aquele momento meu de desespero passa quando percebo que você hoje, pelo menos dentro de mim pode voar, e pode ir e voltar quando quiser, quando puder. Pois eu virei aquelas com medo de amar e  você aqueles do tipo que não entende o sentido de se entregar; e a gente segue assim; nem sempre tão feliz, mas segue assim. 
Pegue seu avião e venha para cá. Depois da colina eu ainda posso te mostrar que honestamente porém, há algo mais vivo para ser vivido, algo novo para nós dois e talvez seja hoje que chegaremos ao infinito. Mas se vira as costas para mim eu até poderia correr, mas não querido, hoje não. Pois se queres um tempo por mais que demore a passar com o vento eu entendo. E então você pode ir, mas não para sempre. Para sempre não. E não me pergunte os porquês, até mesmo porque eu não os tenho e se tivesse não os diria a você. Eu fiz os biscoitos, pus a mesa e liguei a música, você poderia aparecer aqui hoje, só hoje e eu não me importaria com essas roupas largas, o pouco espaço e minha não convencional face de motel fechado. Na verdade eu estou dizendo isso tudo só para conseguir uma companhia. Não quero de você uma mente iludida.
Pois eu gosto quando ri das minhas caretas, quando pego o seu olhar a observar as minhas poucas tatuagens e quando diz que sem elas talvez eu não fosse a mesma. Gosto também quando esquece que sua casa existe e dorme por três dias aqui, e quando diz que envelhece quando seus dedos enrrugam no banho e que queria poder envelhecer na verdade somente assim, e me faz feliz ao me acordar com o seu  'vamos caminhar' e eu digo 'Não querido, hoje não' e você se acomoda, você aceita e você deita e se deleita comigo a ler poemas velhos para você de um tempo em que meus pensamentos ainda eram pequenos demais e se retiam a turbilhões não elaborados. 
Mas eu não quero que vá embora. Não definitivamente. Portanto vá para a casa, trabalhe e viva só pelo prazer das outras palavras ditas de outras pessoas em outros dias. Mas volte quando puder; ou quando cansar da sua vida e quiser por mais algum momento fazer parte da minha.

Eles estão apaixonados, mas ainda não sabem. Na verdade, eles estão juntos sempre, mas isso eles sabem muito menos. Ela já cansou de observá-lo pela rua, andando sozinho, pensando na vida e em quais decisões tomar ou como deve proceder em relação a garota que ele gosta, antes de adentrar pelo prédio no qual ele está se aperfeiçoando de certa forma para honrar algo muito maior do que uma carteira de trabalho (é o que ela acha). Mas ela nunca disse nada e nem procurou sequer falar com ele; pois achava que depois de tanto tempo seu rosto já havia caido no esquecimento e que ele nem olharia para seus belos olhos castanhos. Engano, o dela. Quando ele esteve suficientemente perto para olhar suas feições, ele lembrou daquela festa, daquele  dia, e de como tudo poderia ter sido diferente se ela tivesse dado a ele uma chance. Ele sorriu e ela por sua vez de tão tímida que estava retribuiu com uma reação boba de surpresa e felicidade. Dai então a amizade, ou quase isso, surgiu naturalmente e está seguindo. De certa forma muito mais colorida que preta e branca e só em alguns dias da semana. Ele deu um rápido beijo nela e ela ficou estupefata e todos os turbilhões de emoções foram liberados naquele segundo de encontro de lábios que até hoje ela não sabe dizer se foi casual ou se significou alguma coisa (pelo menos para ele). Pois para ela foi como ter tido a opotunidade de voltar ao passado e resgatar algo no qual poderia ter sido vivido, mas não foi. E o destino, ou algo do tipo, em seu tom irônico brincou mais uma vez com seus 'pausinhos' e mostrou por mais uma vez que nada está perdido.

Justificativa. Não. Uma iniciativa desenfreada e moderadamente insensata e sem razão. Até porquê não havia justificativa alguma ali. Eu pinto o seu rosto na tela bege presa à madeiras de suporte que até hoje não sei o nome e fico imaginando que talvez hoje não seja esse mesmo sorriso, que exponho nessa pintura amadora, que você exibe quando anda pela rua. Na verdade eu nunca saberei. E talvez eu nem queira, só para me polpar em fazer outra pintura com sua verdadeira face. Prefiro guardar essa na qual os pincéis sujos delineiam tão levemente e faz a sua figura dançar dentro dos meus olhos, cabeça e mente. Eu sei que você está com outro alguém. Usando uma aliança prateada e consideravelmente grossa em seu dedo anelar direito e que seu novo par parece ser mais atraente do que eu porém menos sensível. Eu sei, mas não queria te dizer. E nem quero.
Hoje estou afastada da condição de pessoa que pode amar ou gostar de alguém; isso para mim se tornou muito vago. Prefiro o canto solitário e harmônico de um coração que só tem a si para contar do que o coral de brigas que se fazia som com nossos devaneios desnecessários e constrangedores. Eu fiz canções novas em violões antigos e fiz nova história em cima das bonitas músicas feitas para você. Isso não apaga o que houve no passado mas faz com que fique agradável aos ouvidos. Não sei definir se foi bom ou ruim para mim. Na verdade hoje eu não sei mais de nada, acho tudo muito inviável, acho que nada mais vale a pena em relação a ter alguém. Quem sabe a vida muda tudo o que penso enquanto menina de dezessete ou simplesmente confirma minha teoria eremita de seguir a vida. Nunca se sabe qual dos lados da moeda irá cair, então cabe a mim esperar. Enquanto eu termino o sombreado que seu nariz faz quando seus dentes claros que chega a cegar aparecem quando sorri, penso que quero você de fato feliz. Ora, eu sei que já fui egoísta, mas como mudei para certas coisas mudei para isso também. Se não se importa, é claro. As mariposas que estavam descansando na minha cabeça bateram asas novamente para tentar escapar do caos que está se tornando isso aqui. Não as culpo, coitadas. Mas eu preciso delas, elas mostram com seu frenético modo de tentar fugir que devo parar, raciocinar mais uma vez e ver que estou fazendo errado, de novo. 
As coisas lá fora estão ficando cada vez maiores, e as vezes me assusto com as proporções que certas situações tomam de fronte a tantas coisas perdidas e jogadas pelo chão. Cartas, músicas e fotografias amareladas de nossos antepassados sendo substituídas pelo colorido das nossas memórias, pelo o que deixamos para trás, e que um dia ficará exatamente como as que estão sendo trocadas aqui. Estamos deixando uma trilha, um caminho e um seguimento. E quem passará por aqui verá que tanto fui feliz e tanto sofri como qualquer outro ser que viva esse emaranhado de particularidades chamado vida. E convenhamos, vida é algo muito vago. "Caminho para o eterno" é melhor, dura mais, parece mais certo. "Vida" assusta, machuca e distrai. O caminho a gente segue, haja o que houver. E se você não quiser parar, não há quem te pare, e se você quiser tentar, ninguém vai entrar na sua frente. E eu sei o quanto você está fazendo isso. E me orgulho disso, sinceramente. A força maior que rege essa vida sabe o quanto quero saber das coisas boas que se passam por ai. Mesmo eu sabendo que jamais saberei. E o que me resta não é lamentar em um quarto com tintas e telas, nem chorar ouvindo as músicas que eram nossa trilha, e sim olhar para o céu laranja que emoldura a minha visão me levando ao mais longe do horizonte e o mais perto de mim, de novo e de novo até eu acabar de ver o seu rosto reluzir para mim com os cachos opacos do seu cabelo, nariz pontudo e a fala que no retrato me parece muda, mas que diz tudo para mim. Você é dela, e eu quero que corra. E rápido. Ela te espera, assim como eu esperei, mas não do mesmo jeito, e sim diferente e eu sei que ainda verá nos olhos dela o meu jeito que está sempre querendo-te todo o bom e possível bem. Porque o caminho a gente segue, e a gente vive, a gente se alinha a ele, haja o que houver.

Essa é a história, pelo menos parte dela, sobre uma menina, pelo menos ela era na época, que deixou coisas pendentes no passado. Meu relato não passa de uma simples junção de coisas nas quais presenciei na vida dela. Mas tudo isso que será dito foi antes dela ter um filho e um quase casamento substituído por um noivado estável.  
Ela sempre teve traços louváveis. Escrevia, ouvia músicas que fugiam de seu tempo e sempre que se via sozinha em seu pequeno apartamento colocava blues nas alturas, ouvia e tentava imitar os tais. Ao que me remete, ela sempre foi apaixonada. Mas apaixonada por sua missão: a de ajudar os caras que cruzam seu caminho. As vezes ela se apaixona de verdade por um deles, e é difícil dizer adeus. Porém, ela sabe que é preciso. Bom, foi a partir dai que surgiu o problema. E bom esse "problema" tem até boa fisionomia: Não muito alto, pendia entre 1,70 e 1,75m , cabelo castanho escuro puxado para o preto, não muito branco nem muito moreno e um par de olhos verdes que pareciam ler a alma e um sorriso tão contagiante como frio de inverno, mas não era frio; era caloroso e fazia com que ela quisesse o beijar toda vez que ele sorria. Ela o ajudou; encontrou-o no momento crítico de um término de relacionamento e não por coincidência depois que ele se afastou, quando o primeiro término dele havia sido resolvido, ela voltou a o encontrar quase um ano depois no mesmo momento crítico. 
Na verdade ela sempre achou que ele criava problemas só para ela poder resolver. Ela sempre ria ao pensar nessa possibilidade "Que absurdo", dizia. Mas no fundo ela sempre soube que era isso. E mesmo que não fosse ele que fizesse isso propositalmente o destino poderia estar fazendo o trabalho dele e colocando essa situação entre os dois. Verdadeiramente ela, em todo esse período desde que o conheceu, nutriu por ele sentimentos que beiravam a um amor fraterno, um amor um pouco mais avante do que o amor amigo. Ele por sua vez sempre mostrou um amor amigo incondicional, ou quase, o que é bem diferente.
Desde quando ele se afastou pela primeira vez, ela percebeu que poderia perdê-lo a qualquer momento, e depois de um tempo começou a se acostumar com a idéia. A partir dai começou a aproveitar ao máximo toda e qualquer oportunidade que tinha de falar com ele. Não, eu não chamo isso de obsessão. E se você acha isso está tendo uma visão muito deturpada do fato. Defino isso como uma espécie de capricho. Um capricho que só se pode ter poucas vezes, e que se você não aproveita fica se arrependendo e se lamentando para sempre. 
Então, certo dia, ela decidiu que de uma vez por todas ia se afastar dele. Não que ela estivesse cansada de ser ser ombro amigo ou de ajudá-lo; mas estava frustrada pois ele nunca percebia que ela poderia ser mais do que isso. Pensando nisso juntou seu orgulho e pôs em uma mala no inconsciente e foi embora. Passou a observar o que acontecia com ele de longe, sem muitos detalhes, talvez para não sofrer. Com o passar do tempo mesmo vivendo outras coisas da vida ela sempre sentiu que faltava algo. Algo do passado, algo que ela não havia esquecido, mas havia deixado para trás. E toda a vez que ela lembrava dele, ela desabava por dentro e o mesmo questionamento ressurgia como uma velha fênix recém queimada renascendo das cinzas: "Será que ele se quer lembra de mim?".
Ele lembrava. Lembrava mais dela do que qualquer outra coisa e ele sofreu quando ela partiu sem ao menos dizer adeus. Mas isso ela nunca soube. Porém um dia saberá. E talvez não seja tão tarde para ser percebido que um ombro amigo possa ser muito mais isso.
Quem sou eu? Bom alguns me chamam de consciência, outros de memória e outros me chamam carinhosamente de sentimento. Mas não gosto de me dar nomes. Eu simplesmente permaneço em hiato na sua cabeça. Nessa caso, na cabeça dela.

Eu caminhava sobre a areia fina da praia e me jogava no mar, pulando de uma pedra enorme que havia no meio do caminho. A água tocou meu cabelo deixando-o sedoso e liso sobre minhas costas. Ele me observava de longe sentado em uma mureta que o mar esculpiu e o vento o deixava gracioso, como uma miragem no meio do deserto. Eu sai da água, agora tremendo de frio, de medo, de timidez e me aproximei, ele continuou a me olhar, a perfurar-me com os olhos verdes de emoção, depois de tanto tempo. Eu toquei o seu braço para saber se era real e era... Ele segurou minha mão molhada no braço enrijecido pelo vento frio e desceu o rosto no meu tocando-o. Eu não sei o seu nome, não sei quantos anos tem, de onde é e onde viveu. Mas eu sei que naquele momento o mar poliu nossos rostos colados um no outro respingando parte da água salgada que crescia junto a maré. Eu ainda quero vê-lo de novo e de novo até saber que vivi o suficiente. A música tocou, e essa então virou a nossa, era lenta com uma melodia tão suave quanto o movimento dos nossos lábios em completa sintonia. Nada nos atrapalhou, nada entrou no nosso caminho, eu ainda me sinto invencível. Eu sabia que ele sentia... Sentia o coração palpitar mesmo nem sabendo quem eu era. Ele continua sendo o cara da mureta esculpida pelo mar e eu a garota que pulou da pedra em direção à águas turbulentas. Ele se levantou e foi embora, andando em direção ao pôr do sol que deixava nossas sombras longas e o chão alaranjado, ele se foi e voltou. Mas voltou diferente, mudado. Não me penetra com os olhos verdes, não havia emoção e agora ele estava com uma outra menina, que pulou de outra pedra, muito diferente de mim e que criou uma história nova e diferente com ele.

Ele voltou, e eu não acreditei. Passou-se muito tempo desde sua partida, porém agora, parado na minha frente conversando livremente comigo ele ainda é o mesmo. Confesso, de fato, que a princípio fiquei sem reação. Mas ora, como não ficaria? Havia eu pensado todo esse tempo que tinha perdido uma das poucas pessoas que me compreendia. E não tão tarde depois, pelo menos não para a vida, ele voltou impecavelmente novo, porém ainda ostentando seus traços antigos. Eu não vestia roupa nova e nem estava arrumada. Na verdade estava comumente jogada a rotina, com minhas roupas sem graça e repetidas. Mas eu estava bem, pois ele não se importava. Na verdade, ele nem ligava para o que eu estava vestindo. Ele lembrou de tudo, lembrou-se e me fez lembrar junto. Lembrou de quando pulei da pedra alta em direção ao mar, me lembrou das nossas conversas, nada sensatas e tanto quanto divertidas. Lembrou de coisas nas quais pensei que haviam sido esquecidas pelo tempo, por mais curto que esse tempo fosse para se esquecer. Ele estava sentando comigo, na pedra onde nos conhecemos e onde tudo começou. E mais uma vez eu não pude acreditar. Então ele me contou sobre a menina que o levou embora. Aquela que pulou de de outra pedra alta, e que de certa forma o conquistou. "Triste fim", pensei. Ele é uma das melhores pessoas que conheço e ela tratou-o como água do mar batida em um daqueles paredões imponentes que rodeavam a costa e escoava de volta à margem. Mas não falamos muito dos tristes fins de um tempo no qual não nos comunicávamos. Propus estão para que ele pulasse da pedra alta comigo. Direto para o mar e para a renovação. O céu estava alaranjado; mas não era o alaranjado de um crepúsculo como aquele quando ele se foi. Era o amanhecer, a alvorada de um novo dia. Deixei o momento parar no tempo e fiquei a observar aquela parte do dia que tanto me encantava, assim como o seu contraste no fim de tarde.  Suspirei pois me faltava o ar e segundos depois ele sorriu talvez me achando esperta por aquela proposta ou tola demais por propor algo com ele. O observei em silêncio e lembrei quando ele, por mais uma vez, disse que eu ser observadora é uma "característica legal". Me permiti sorrir junto com ele. A proposta ficou em aberto e voltamos a conversar. Eu estou a aguardar a resposta. Afinal, somos uma multidão de poucos, uma exceção a regra e o começo de uma trajetória onde não se vê o fim.

Eu estive presa em meus próprios medos por muito tempo. E me perguntei se eles nunca iriam desaparecer de mim. As coisas vem acontecendo tão repentinamente que nem sei mais no que acreditar. Eu poderia dizer que ele me conquistou, mas também poderia dizer que ele simplesmente deu um bom flerte. Na verdade, eu sou muito segura de mim para cair em qualquer cantada barata e sei esconder muito bem minhas emoções ruins quando elas não tem que vir a tona. Mas de alguma forma com ele não foi assim. Eu segui totalmente meu oposto, e percebi que com ele eu me tornava alguém totalmente diferente.
Eu queimo o incenso no meu quarto fecho os olhos e viajo até onde quero sem ponte aérea, passagens, malas e o mais importante de tudo, sem lembranças ruins. Me sinto livre, me sinto leve. Porém há um peso, um peso no qual eu tenho que carregar e que até hoje não sei o objetivo. Talvez eu nunca saiba.
E então, certo dia ele passou de carro naquela extensa rodovia bem ao meu lado e buzinou para mim. Eu acenei de volta e então ele parou, deu ré e voltou a ficar ao lado do meu corpo desligado de toda gravidade existente com aquela enorme máquina preta cromada e cheirando a nova. Então ele saiu do carro e veio ao meu encontro.
"Eu te amo" - Ele disse.
"Eu também" - Respondi.
Nos beijamos, e então senti o cheiro da despedida. O cheiro do couro da sua jaqueta, o cheiro da sua loção pós-barba que o tanto fazia homem, e seu hálito quente e cheirando a menta. Ele sorriu. Depois disto, nunca mais o vi novamente. Então, percebi que estava em uma dessas minhas viagens. Em um desses devaneios e que eu precisava voltar. Voltar para uma realidade que eu não acreditava que fosse minha. Pelo menos não sem ele. ♥

O começo do que poderia ser uma boa estória.
Maebe sentou-se sobre uma pedra cinza que se encontrava ao lado de um grande rio de extensão que se comparava ao infinito. Levantou o olhar e acompanhou três micos sacolejarem os galhos de uma árvore acima de sua cabeça. Ainda era cedo mas Maebe se levantou com grande energia e vontade que foi acompanhado juntamente com os raios de Sol que despontava nos morros e agora iluminava toda a extensão da planície coberta de flores de diversos tipos. Algumas eram nativas daquele lugar, o que só embelezava mais a vista naquela manhã tão amistosa. 
Ao terminar de observar aquela paisagem-pintura, decidiu nadar um pouco. Certificando-se que não havia nenhuma carroça ou caravana a passar pela estrada despiu-se deixando somente uma ceroula e uma blusa branca que pendia acima da barriga colada para sustentar os seios. Deixou o que despira perto de um tronco de árvore meio oculto pela folhagem do chão. Com os dedos do pé, encostou na água para testar a temperatura e viu que estava agradável para um mergulho. Foi descendo gradualmente o corpo pela margem do rio e adentrava a passos curto até a parte que fazia com que a água encostava-lhe à cintura. Passou as mãos na água como se quisesse acariciá-la e num súbito mergulhou de forma teatral como as sereias que lia nos livros, secretamente, no escritório de Hizibar. Ficou submersa por segundos cruzando até o outro lado da margem. Por mais extenso que fosse, sua largura não passava de meros dois metros. Era tranquilo, sem forte correnteza, o que fazia com que os "banhos" fossem bastante comuns. 
Maebe emergiu e seus longos cabelos cor de mel foram-lhe jogados contra as costas, como um espelho refletindo àquela luz matinal. 
Sentada agora na outra margem do rio e com os pés tocando a água, Maebe olhou para o outro lado e então percebeu que havia alguém parado a observá-la. Com uma perna apoiada sobre uma pedra, o homem até então imóvel, observava Maebe de forma doce, o que a deixou menos apreensiva. 
- O que quer estranho? - gritou ela pondo-se de pé.
- Ora, por Deus. Não sou um estranho. - então caminhou para perto da margem.
- Não respondeu a minha pergunta.
- Ah sim, claro. Não quero nada. Só vi quando mergulhou e fiquei a admirar. Estava caminhando por perto somente.
- Estava me seguindo, estranho? - bradou Maebe irritada com o constrangimento.
- Logicamente que não. Mas se continuar a me chamar de estranho talvez comece a segui-la. - Terminando a fraser gargalhou gostosamente.
- Ora mais que abuso! - falou Maebe em tom mais baixo, porém ainda audível.
Mergulhou de volta à outra margem e subiu alcançando a parte rasa.
- Pensei que a esta hora alguém pudesse ter um momento de paz. - e lançou um olhar furtivo ao jovem parado a sua frente antes de bater o pé molhado no gramado ao buscar suas roupas perto do tronco de árvore.
O estranho sentou-se na mesma pedra que Maebe ocupara minutos atrás.
- Diga, qual é o seu nome? - perguntou ela quando terminou de calçar os sapatos marrons.
- Meu nome é Andréius. Mas pode me chamar de André.
- Pois então Andréius - Maebe descartou toda e qualquer possível intimidade - O que faz a essa hora da manhã nos arredores do Rio Tahlis?
André deu uma risada abafada, achando graça da mudança repentina de humor da jovem que a minutos atrás parecia tão serena ao nadar pelas águas cristalinas do rio.
- Venho atrapalhar os banhos matinais das moças! - E bradou uma espada invisível como se aquilo fosse algo absurdamente honroso.
- É acho que deu para reparar isso. - Maebe penetrou-o com o olhar.
- E a senhorita o que faz a essa hora do nascer fora da cama e longe de casa?
Maebe que mesclava a raiva da interrupção do seu banho e a graça que também achava da situação respondeu irônica:
- Venho ter os meus banhos atrapalhados por rapazes perdidos.
Arrumando os cabelos ainda molhados que ficaram bagunçados enquanto colocava as roupas, saiu andando em direção a estrada que seguia-se longa até a sua casa. O rapaz ainda rindo do 'rebater' de Maebe gritou antes que ela sumisse nas árvores:
- Ei moça! Ainda não sei o seu nome.
Maebe se conteve, parando em súbito e então vencida olhou para trás.
- Maebe. Maebe de Hizibar - E deixando o jovem sozinho à margem do rio pegou a reta e foi para casa.
É comum dizer depois do nome próprio o nome do pai; ou dá mãe se não houver a figura paterna, como se aquele filho fosse propriedade daqueles seres. O que realmente é até o momento de ter idade suficiente para abandonar o título. Logo, isso aconteceria com Maebe. Porém ela ainda era uma Maebe de Hizibar e deveria se apresentar como tal.
Ao chegar em casa fez todas as suas tarefas diárias juntamente com sua irmã Mazini e deixou levar o pensamento esquecendo o episódio no rio com Andréius.

Eu coloco a música no talo e danço. Sim, eu danço por nós dois, para te trazer de volta sendo envolvente e serena. Talvez você não perceba, mas eu estou mais perto de você do que imagina. Eu ainda passeio nos seus pensamentos afastados pelo tempo esperando o momento em que farei o caminho de volta e te encontrarei sorrindo para mim. Vamos, encoste seu corpo no meu, eu sei o que você quer e você sabe que sou a única pessoa a te fazer tanto bem assim. Me beije, como fez um tempo depois de ter me conhecido. Eu posso estar distante e ela perto demais mas você sabe quem te deseja assim, desse jeito, como o médico e a paciente no consultório lembra-se? Creio que não. Ela pode ter te feito esquecer metade das boas lembranças mas eu sei que estou ai, e você aqui. Você só precisa acordar e vir aqui, me abraçar, e quem sabe algo mais do que isso. Eu posso ser sua gênia garoto e te conceder três pedidos. Mas me inclua em um deles. Pois sei que você ainda deseja mais uma noite na piscina brincando e jogando água um no outro e aquele beijo molhado. Estamos confusos, e eu cansei de andar por essa confusão em sua cabeça meu querido. Eu vou fazer algo pra te estarrecer, serei eu, mas de uma forma melhor, pode acreditar. E eu sei que você gosta disso, dessas surpresas inertes e confesso, que gosto de fazê-las assim, do meu jeito. Você pode ter escolhido se distanciar, mas eu escolhi ficar e esperar pra te encontrar; melhorada pelo tempo e te deixar assim, de um jeito que não sei explicar, de um jeito que só você sabe fazer. Eu posso ser sua gênia garoto, e mexer com esse seu gênio concedendo os desejos que eu mesma causei.

 this is a story about love.
Ela não é boa para ele. Eu sempre soube disso. Desde o início.
Mas ele estava feliz; então, o que seria eu a falar algo assim em meio a essas emoções dele? Minhas amigas, há quem diga 'confidentes', sabem. Já ouviram todas as minhas histórias sobre eu e ele. Sendo que ele e eu, nunca de fato aconteceu. Elas sabem que desde o inicio eu via que ela não era dele. Que ela não o pertencia. Mas naquele momento ele pertencia a ela. Ela xinga demais, é falante demais. E ele, por mais despojado que seja, ainda conserva-se reservado. Ele é um eterno Peter Pan. Convicto, imutável. Nunca cogita a idéia de crescer, mesmo tendo chego quase aos vinte e poucos. Por dentro ele se guardará jovem e enérgico. Porque ele é assim. Sempre foi e sempre será. Porém, a Wendy que ele carrega consigo não é como ele. Assim como no filme ela vem, faz ele fez por um período e depois vai embora. Ela quer ir, e deixá-lo para trás. O que ele não sabe, e espero que talvez nunca venha saber, é que por ele eu nutri todo o bom sentimento possível mesmo com as coisas que fatalmente fizeram com que nos afastássemos. E que toda vez que o vejo mal, eu também detenho do mesmo sentimento, mesmo que não tão intenso, e me sinto impotente pois nada posso fazer. O que aguardo agora é que ele fique bem. Se for com ela ou sem. 
Eu não sei. Só sei que o quero bem.

Essa não é uma história.
Na verdade, essa não é uma história de forma alguma. É um conto. É um relato.
Ela cansou-se. Estava estafada daqueles que tanto prometiam e nada cumpriram e foram embora sem se despedir. Há um tempo atrás aprendera com sua avó que tudo na vida tinha seu tempo, e que tudo para esse plano havia uma razão. Mas não compreendia por que para ela tudo era tão complicado e vil como parecia. Os pássaros cantavam alto céu acima dançando livres em sua natureza. Ela deitou sobre a imensidão verde e fechou os olhos e projetou o espírito para aquele lugar deixando o corpo descansado na grama. Flutuou para cima de uma árvore alta e sentou-se observando o resto das coisas. Aprendera também com a avó que tudo nessa vida é igual. Mas não igual em essência. E sim igual em intenção. Em missão. Mas como tantas outras coisas, ainda não compreendia. Inspirou o cheiro da água que delineava um pequeno rio à metros dali e viu que o amor e o ódio eram a mesma coisa. O que é o amor? Perguntou-se. E o que será o ódio? Permitiu-se questionar uma segunda vez. O amor - Respondeu ela - É todo sentimento. É a unidade. E o ódio também. Ela acreditou então que o ódio era o amor em sua forma negra. E entendeu então que era como se fossem duas realidades. Uma o oposto da outra, mas não deixavam de ser iguais. Meditou então por mais alguns minutos. E tomou uma decisão. Pairando no ar desceu até encontrar seu corpo imóvel no gramado e acoplou-se a ele novamente. Ainda um pouco desnorteada, algo normal após uma projeção, levantou e andou. Ela nunca havia chego a tal epifania. Ao descobrir por si que o amor e o ódio, assim como todas as coisas, são iguais, não viu mais motivo para estar ali, e então caminhando por todo aquele verde ela voltou ao cinza de sua civilização. Agora muito mais pronta a encarar os outros. E ainda mais pronta para parar de fugir do que a afligia. Ela deixou o campo. Deixou aquele lugar de paz que era seu refúgio por tanto tempo. E então aquele lugar foi ocupado por outros que precisavam daquele lugar tanto quanto ela, e que assim como ela, saberiam um dia o que lhes era permitido e preciso saber.

Talvez eu não prestasse mesmo. E tivesse que ficar entre o bom marasmo das fazendas ou na agitação complexa de toda uma cidade. Por tempos pensei que fosse pouco e descubro por si que sou pouco mais que nada; e hoje em dia; isso me é tudo. Eu me tranquei em meu quarto azul, que na verdade de azul não tinha nada. Eu é quem olhava pra janela e via o céu e pelos segundos que seguiam eu queria estar lá, e podia, então fiquei. Palpei os sonhos e as vinhetas antigas; e percebi que estava fazendo errado. Que eu não precisava me negar os bons sentidos da vida pra me sentir sã e que ao mesmo tempo não deveria abusar dos mesmos. Eu com dezessete já cansei de procurar os 'caras legais'. Aqueles que se vê na tevê e nas redes sociais. Pra ser sincera eu optei por esperar. Mas não esperar pouco. Esperar bastante. Porque um dia o amor para de brincar comigo e cansa também. E nesse dia, eu saberei que não estarei velha ou nova demais.
 Eu só estarei; e isso já é suficiente para se amar. 
Aprendi a aceitar a solidão como companhia e a fazer dela uma aliada nas horas propícias. E agora se sofro, sofro pouco. Só o bastante para amadurecer. E eu devo isso a tantos, que nomeá-los seria desnecessário. Pois eu tenho as letras e os livros. Os textos e as prosas. E alguns segredos. Que não são segredos, e sim devaneios de uma mente nova e desbravadora de terras inóspitas. E se eu falhar, o que me custa? Contanto que a vida seja justa eu ainda me permito falhar. Pois tudo de ruim eu pego e jogo no mar. Pra maré levar e fazer voltar. Só que diferente. Mais viajado. E por mais que eu saiba que a saudade é um sentimento urgente; eu aprendo a lidar com a urgência e faço tudo ser mais emergente. Mais devagar. Porque depois de tantos anos eu voltei a ver alguém de olhos carentes e coração puro. E quando a maré nos jogou em lugares diferentes e nos mudou, por muitos eu estive perdida. E não digo que hoje me encontrei. Digo que estou ainda mais perdida. E o medo é sutil, o de esperar. E eu estou a esperar. Por algo que talvez demore mais alguns anos. Ou dias e minutos. Porque a sorte é assim. É infiel. Troca de lado e nos deixa em súbito, esperando-a voltar. E se ela está do meu lado eu não sei. O que sei é que espero aqui, vendo a maré dançar.

Ele era um forasteiro na cidade. Saiu do lugar onde cresceu para tentar a vida. Pra arrumar uma grana e um pé de meia certo. Ele era desapegado; gostava da estrada, e a estrada gostava dele. Ele não via problemas em dormir em uma hotel diferente a cada noite, de comer comidas de regiões diferente todos os dias. Ele simplesmente não vi os problemas. Ele tinha uma perua amarela, onde continha tudo o que ele precisava. Ele era louco pelas músicas que tocavam em seu carro e fanático pelas fitas que seu pai um dia o dera de presente da Natal quando o mesmo disse:
'Sei que um dia você será homem o bastante para entender'
E de fato naquele momento ele era. Ele teve muitos amores. Um para cada estado assim digamos. Ele sempre disse que precisava 'inovar'. Tolo. Não sei se era por causa de sua vestimenta (botina preta, calça preta, camisa branca e blusão preto) o motivo de tantas que ele conseguia conquistar. Era tudo preto no branco. Como nos contratos. E de certa forma todos os relacionamentos dele foram contratuais. 1 mês e nada mais. Essa era sua política de privacidade registrada no cartório da primeira cidade para a qual ele viajou quando adotou esse estilo de vida punk viajante. E foram assim todos os relacionamentos; todos exceto um.
Foi na cidade de Beckley. Ele havia feito uma parada em um bar no centro da cidade para beber e comer alguma coisa antes de seguir para Servant, à 150 quilômetros dali. Era 4 de Julho e os fogos haviam começado à 15 minutos e mesmo assim ainda brilhavam imponentemente clareando todo o céu da cidade. Ela parou na frente dele olhando atentamente para o alto com um sorriso no rosto. E então ele parou. Ele fitou aqueles cabelos negros caídos nas costas brancas de Noelle, sim esse era o nome dela, como se aquelas milhares de cores vibrantes não estivessem ali. Quando os fogos acabaram e todos os casais se viraram ritualmente um para o outro e se beijaram ele a agarrou pelo braço suavemente e a beijou. E ela deixou. E eles se beijaram, e então se amaram e então ficaram juntos. Eles viajaram na perua dele, e ela teve 2 filhos. Eles firmaram residência em Cortneytown e então viveram os outros bons e lindos anos que restavam juntos. Ele continuou a viajar nesses anos, mas dessa vez ele sempre voltada para casa. Pois pela primeira vez na vida dele ele tinha uma. E então ele trazia relíquias de suas viagens para Noelle e seus meninos. Noelle por sua vez virou organizadora de eventos da sua cidade. Era assim todo ano. E todo ano ele estava lá juntamente com ela para comemorar todo o trabalho que ela havia tido. E então quando os fogos queimavam eles se abraçavam, olhavam para o alto e se beijavam.
E ele nunca, nunca se arrependeu uma vez se quer daquele 4 de julho.
Aquele no qual os fogos eram os olhos dela, e o único calor sentido era o do corpo dela, no corpo dele.

É fim de ano e tudo pareceu tão rápido. Na verdade o ano passou exatamente como o outro, mesmos dias, horas, meses e afins. Julieta encarou esse ano como um ano de mudanças. Um ano de mudanças para as coisas obtidas no ano anterior e para obter coisas novas a partir desse. Ela reatou amizades perdidas no tempo, até em anos, aprendeu a ser sensata e a observar dez vezes mais do que o de costume. Julieta também teve surpresas ruins esse ano. O cara que ela achava que era o seu 'Romeu por toda a vida' na verdade não passava de um charlatão que encantou a ela em alguns minutos e fez o mesmo com mais umas dez. Bom, na verdade foi só mais uma. Ele enganou Julieta por um ano e alguns meses e ela finalmente soube colocar um fim nisso.
E então, como em todo e qualquer 'tombo'; essa experiência acarretou alguns traumas. Mas nada que a gente não possa deixar o tempo tratar.
Esse ano tudo foi intenso demais; até mesmo na escola. Projetos grandes, responsabilidades maiores ainda. Mas ela sobreviveu. Pra ser mais certa, Julieta viveu todos esses episódios de projetos de uma forma bem vívida e se orgulha dos bons frutos. Ela gostaria de ter se estressado menos e ter meditado mais. De ter percebido antes os erros e não ter esperado eles darem um tapa significativo no meio da sua cara. Julieta escreveu muito. Escreveu muito mesmo. E até criou um blog de textos com sua amiga, essa porém não é Julieta, mas podemos chamá-la de Ju. Ela se surpreendeu também com o fato de hoje em dia ser amiga de uma menina que na qual acontecesse dela ouvir o nome odiaria a pessoa e mais ainda a pessoa dotada do mesmo. E hoje todo esse 'ódio' parece tão em vão. Ela sofreu por amor (ou o que ela achava que era amor). E não sofreu pouco. Se você que está lendo isso quer conquistá-la e ter ela para você, vou lhe dar uma(s) dica(s): Seja totalmente o oposto do que aquele pseudo-Romeu foi para ela. Mostre-a que você vai muito além dos traumas dela e que algo verdadeiro pode existir entre ela e um garoto. Se você não sabe o que aquele Romeu fez com, pergunte. No começo ela ficará apreensiva; mas também será ai que você vai mostrar a ela que ela pode confiar em você e assim ela lhe contará tudo. Mas só faça isso se REALMENTE a quiser, se não tiver medo de tentar e se realmente sentir algo por ela. Porque sinceramente, ela não está muito interessada em sofrer de novo.
Julieta esqueceu as coisas ruins pois conheceu alguém (que sim, está muito distante dela) e que parece ser realmente algo que possa durar de verdade, sem faze-la sofrer. Julieta não liga para distância, não liga para dificuldades. Ela só quer que seja recíproco. Essa foi mais uma das coisas que ela aprendeu esse ano. Se ela ver que irá receber o mesmo (ou mais) do que ela dará ela não vai se importar com nada e vai lutar. Filosofia de Julieta. Ela espera que o ano que virá seja bem melhor. E que tudo conquistado no mês de Novembro se conserve e que a partir dai ela só consiga coisas realmente boas e felizes. Ela quer um amor sincero, pois ela já está amando. Ela quer os estudos nas linhas certas. Ela quer as ótimas amizades com ela todo o tempo e quer fazer novas. Ela quer oportunidades de visitar seu sulista (que aparentemente já fez o pré requisito dito acima) e assim fazê-lo feliz. Na verdade Julieta quer ser humana. Quer viver intensamente, quer sentir a beleza das coisas. Quer descobrir porque os passarinhos cantam às 5:00, se seu cabelo ficará bom no tom vermelho e porque ela sente um enorme frio na barriga quando ouve o nome DELE. Julieta quer um final envenenado de alegria; um final certamente feliz. Porque você sabe não é? O que acontece no última dia do ano, dura o ano inteiro! ;)

Eu busco todas as respostas para as perguntas complexas que aparecem a minha frente. Mas para ser sincera eu não quero saber as respostas. Eu ostento um sorriso constante e uma esperança dentro do peito. Me perco na melodia das músicas que compõem os nossos dias belos, nas suas fotos com a sua melhor e mais bonita expressão tranquila e nas suas palavras doces que molham meus lábios e agradam meus ouvidos. Eu quero me perder na estrada que me leva até você e nunca mais voltar, quando estiver do seu lado. Quero sentir o encontrar do quente do céu e o frio da água quando estivermos brincando como duas crianças na primeira orla que vermos.
"Mas eu estou tão envolvida.
Você sabe,
eu sou uma tremenda boba por você."
Lembrar da sua risada que toca a minha pele através do vento e me devolve uma paz perdida a tempos é algo que explicação nenhuma em qualquer um dos tempos descreveria. Não estou interessada nas deduções de 'b' ou 'c' para me dizerem o porquê de todo esse processo *lindo* repentino. Eu estou na verdade interessada em viver, deixar fluir toda essa propagação de boa energia que você me proporciona e sentir isso que está dentro de mim agora com muito mais intensidade. E então eu me pergunto: "Por que tão longe". E respondo, que talvez o físico do obstáculo pode aumentar a importância do 'prêmio'. Mas acredite, que de todos os presentes possíveis que a vida pudesse me dar nada se iguala a você.
"E nós não nos importamos com nossos próprios erros
Falando sobre nosso próprio estilo
Tudo o que nos importa é conversar
Conversando somente eu e você."
E então você é real? Você não vai me machucar? Você não irá me trocar por outra qualquer que aparecer na sua vida? Você promete não ir embora quando tudo parecer contrário as nossas crenças, e quando você já estiver cansado de esperar pela oportunidade de nos vermos? E promete continuar exatamente desse jeito como tudo está agora, que nada vai mudar no passar dos dias? Você promete, somente prometer? Você já tem a mim, e não duvide disso. Eu não estou com medo, não tenho receios. Eu quero tentar! Eu quero você! E por mais que todas as condições digam que não eu digo que SIM e assim será.
"Eu tenho acumulado esperança e fé
Nas curvas do seu rosto
Que eu serei a única que te abraçará para sempre."
E eu não irei embora. Eu não vou deixar você e seu sorriso para trás. Não vou negar sentimento, não vou mentir para a situação mais óbvia da minha vida. Eu vou buscar forças no invisível, vou andar lado a lado do impossível, vou enfrentar o indistinto, tudo o que for preciso, por você. Eu vou fechar meus olhos e deixar você me guiar, para qualquer lugar, para qualquer estação. Todos os perigos, desafios, sorrisos, todas as aventuras, para nos sentirmos vivos! Eu vou deixar a porta aberta e você sabe a direção que tem que ir. E vamos dançar e cantar músicas que só nós conhecemos, vamos sentir o vento bater nos nossos rostos e ver que tudo faz sentido. Tudo e nada para viver contigo.
"Eu não ligo...
Eu não me importo...
Desde que você esteja aqui"

Eu deixaria minhas manias de lado para poder acompanhar você. Beijaria sua boca em desespero que receberia a reciprocidade doce da sua eterna vontade de volta. Eu buscaria caminhos mais hábeis e fáceis, para poder chegar até você; e lançaria no mar palavras que a maré levasse para que você ouvisse. Eu diminuiria as ironias e riria menos para poder te ouvir mais. Tentaria não entender a rapidez dos fatos e deixar acontecer na fluência dos atos. Seria menos exigente comigo mesma e deixaria a vivência fazer o de melhor entre nós dois. Ouviria suas músicas e você as minhas e nós de imediato gostaríamos por conta do nosso (refinado) gosto parecido. Eu deixaria um lado vago no colchão da minha cama para você se deitar comigo só para conversar sobre diversas áreas das nossas vidas e fazer carinhos. Eu lutaria com o vento e ignoraria os sentidos. Jogaria pôquer em um cassino proibido. Ganharia dinheiro para uma viagem que cruzasse o país e só parasse quando eu soubesse que havia chegado ao meu destino. Cruzaria os dedos para que gostasse de mim. Apoiaria suas decisões difíceis e aquelas entre cor de camisa/sapato/gravata. Eu teria amnésia e você seria o primeiro cara na minha vida. E isso poderia ser algo que não mudassenunca.
Usaria uma camisa sua como vestido e assitiria os nossos filmes favoritos com um balde de pipoca e um sorriso bonito. Faria brigas de travesseiros com você quando passasse as férias na sua linda cidade, e choraria na hora de ir embora. Cantaria, mesmo que mal, músicas clássicas que nos fazem parecer iguais. Faria você esquecer o que você passou, com quer que fosse. Tentaria ser boa em romantismo e dizer coisas que fizessem você acreditar no que sinto. Esqueceria que são somente 15 dias desde que 'nos encontramos' e contaria o número real de dias que seria de acordo com o que conversamos. Veria o Sol nascer com você na linha depois de uma madrugada inteira de risadas e palavras doces. Eu diria agora para você que tudo o que acabei de dizer são verdades a serem realizadas, e que há muitas outras, que diria eu, são surpresas do destino. Que podemos estar absurdamente errados e ao mesmo tempo incrivelmente certos. O que nos vale agora é o quanto que nós disponibilizaríamos a sentir isso. E mais uma vez, eu ainda estou descobrindo.
I get so breathless, when you call my name,
I've often wonderd, do you feel the same?

A rodoviária gelada e tudo parecia vazio. Eu já havia comprado a minha passagem para ir a lugar nenhum naquele dia. E eu mais do que nunca estava decidida. Coloquei as mãos nos bolsos e esvaziei-os tirando as moedas que pesavam na parte de trás da calça jeans surrada que eu adorava tanto. A música no meu fone de ouvido era mais uma daquelas que eu pegava da soundtrack de uma série que eu gostasse de ver. Nada mais poderia me resgatar ali; já havia feito todos os bilhetes de despedida e colocado todos nas mesas de cabeceira daqueles que realmente importavam para mim, mas que eu deveria deixar para trás.
Aos poucos aquele espaço foi se tornando algo pequeno pela quantidade de pessoas que se dirigiam ao mesmo lugar que eu. Estavam pensando provavelmente no seu trabalho ou em coisas que naquele momento não cabiam a mim entender. Mas eu estava sozinha. No meio da multidão vazia, e mais do que nunca eu precisava ir. Sabe-se lá se no meio daqueles tantos outros ali algum estaria sendo igualmente covarde a mim de fugir e deixar tudo para trás. Eu refleti e percebi que para uma coisas desses só necessariamente precisaria ser eu. E bom, eu já estava sendo 'eu' demais.
Quando tudo estivesse pronto, eu cairia em uma estrada sem volta. Então por uma brecha no meio de todo aquele concreto cinza e sujo algo surgiu e iluminou exatamente o lugar em que eu estava. A multidão 'terno e gravata' pareceu se dispersar e a única coisa que andava era algo, ou melhor, alguém que percebi de imediato que seria importante. Só pelo fato de ele conseguir afastar todos aqueles sorrisos falsos de uma manhã comum de perto de mim e pelo fato também de ter vindo do nada, de uma esperança que eu tinha e achei que nunca se concretizaria. E o fato dele ele estar ali mudava tudo. Mudava o fato de eu querer me esconder, de eu querer ir embora, de eu simplesmente achar que nunca em lugar nenhum acharia alguém como ele. Não que seja paixão avassaladora dos dois lado do pino do xadrez. Pela primeira vez, em todos esses anos eu consigo não olhar somente com um olhar diferenciado, mas com o olhar de 'sei que posso contar com você; sem compromisso yet'. Ele me convidou para uma boa conversa, café, bolinhos e uma lavagem de roupa grátis em um rio. Eu gostei da idéia e me acomodei, até demais. Acho que de todos os portos que já me assegurei, esse eu realmente senti a segurança de poder ficar por mais um tempo. E acho que é assim que as coisas tem de ser...
Não ligo de ficar horas da madrugada rindo e sorrindo. Não ligo em ser prestativa, em fazer o que for preciso. Só ligo para que o destino não se zangue comigo e retire mais uma vez algo que pode ser um ponto fixo. Pelo menos para a minha sanidade. E então ele era o cara do ponto de ônibus frio, que me deu calafrios e uns suspiros. Mais agora que isso, ele era o criacionismo sensato na minha visão paralela de estabilidade de princípios. Mais do que isso pra mim.
E eu ainda estava somente descobrindo...

"Hi, I'm Summer"
Garoto da praia, eu estou indo embora. Obrigada pelo verão que passou comigo e por ter se tornado o meu Sol quando tudo havia fugido. Eu bem sei que não foram os melhores meses da sua vida, mas me sinto grata de te-lo usados também para me ajudar. Eu por um longo tempo tentei achar respostas para as coisas súbitas que aconteceram e que bom... até hoje não obtenho as respostas. Eu estou indo pois posso ver que está bem, e é a partir desse ponto que minha missão aqui acaba. Eu tentei te sustentar quando pude, e sei que você fez o mesmo, pois talvez se não tivesse feito muitas das coisas presentes comigo hoje não existiriam. Que bom que posso te ver sorridente quando olha nos olhos de outra pessoa. E por mais que essa partida, para mim, seja dura e complicada percebo que é para um bem geral. Me perdoe caso eu tenha insistido demais nas coisas, ou se tenha por alguma vez te pressionado a dizer algo que você preferia ter deixado em segredo. Saber que para você tudo o que foi sentido não tem significado algum só me dá forças para ir embora. E talvez se eu for agora eu possa levar junto a mim as lembranças boas que também me darão impulso para um dia desses encontrar você e lhe dar um sorriso ao invés de um olhar de desprezo. Gostaria que soubesse que você foi e é umas das pessoas mais amáveis e inesquecíveis que passaram por esse curto período de tempo que tenho passado viva e é uma das poucas que por mais que os dias ruins tenham superado a quantidade de bons, quero levar para sempre na minha memória e sempre que me for propício pensar em tudo e dar uma risada frouxa. Eu queria ser convidada para seu casamento, ou talvez somente saber onde ele acontecerá para poder olhar para você da porta da igreja e te desejar as mais sinceras felicitações que cabem a mim dizer. Gostaria também de ler uma coluna sua no jornal mais lido da cidade ver o orgulho dentro de mim gritar 'Ele foi um dos melhores amigos de curto prazo que já tive' e deixar esse orgulho só para mim, sem compartilhar para não me vangloriar de mais e perder o chão novamente. Eu tenho diversas coisas presas à minha garganta e não, definitivamente não, tentarei mais dize-las à você. Caso um dia a curiosidade surja no seu olhar, me pergunte. Eu provavelmente já estarei na cidade que hoje você reside e então marcaremos em um café qualquer onde eu possa expor todas essas palavras perdidas entre minhas cordas vocais hoje em dia. Eu espero sinceramente que tudo na sua vida seja o mais feliz possível. Que esse seu jeito maroto e conquistador sempre esteja cravado no seu olhar e nas suas atitudes e que todos aqueles que um dia quiserem te derrubar tenham as calças infestadas de diabretes da Cornualha. Eu estou indo agora. E agradeço mais uma vez à você, por tudo. Pelo feito e pelo que não se foi permitido fazer. Eu ainda poderei tirar as lágrimas do seu rosto algum dia e você poderá colocar um longo sorriso no meu quando estivermos prontos para relembrar e as folhas cairem antes do calor cessar.
"I'm Autumn"

As luzes da cidade não são as mesmas sem você. Eu passei em frente a sua casa sem a coragem de encarar a campainha e tocá-la. Desde que me mudei para o outro lado desse grande estado nós nos perdemos, e você está cada vez mais distante. Mais até do que a própria distância física que nos separa. Creio que sou fraca demais para sustentar a idéia de deixar você ir. Por mais que esteja feliz assim. Eu tenho um certo egoísmo, admito, mas nada mais do que isso. Eu curto sua camisa xadrez que me faz tirar um longo sarro de você e da nossa música que ainda toca no rádio. Um cd de fotos nossas passa lentamente na minha tevê e eu ainda estou meio lenta pois fixei demais meus olhos nos seus na foto em que eu e você estávamos sorrindo felizes para a câmera com um enorme parque às nossas costas. Eu gostaria que você fosse aquela foto. Gostaria de guardar você e poder leva-lo para todo e qualquer lugar que quisesse. A cafeteria/lanchonete/music lounge está fria e silenciosa. Dakota não é a mesma sem seu sorriso. E toda vez que sento na mesa com cadeiras em madeira ao lado da janela impecavelmente limpa da Holly's Duff eu penso em você; penso nos nossos encontros inesperados, nossos planos para um futuro que parecia nunca chegar, e seus estudos para o vestibular que as vezes o deixava chato. Eu estava lá. Fazendo você rir até se engasgar e esperar você se recompor vendo você tomar um ar do outro lado do vidro. Quando você entrava novamente, riamos mais um pouco até o assunto ficar sem nexo demais, a luz amarela acima de nossas cabeças tivessem sido acesas e começasse a projetar sombras mais fortes do que aquelas feitas pelo pôr do sol, que àquela altura já tinha se posto completamente e nossos lábios se tocavam involuntáriamente sem que fizéssemos esforço algum. Não há como esquecer isso. Não agora; não enquanto eu não quero. Nas lembranças consigo sentir uma pseudo segurança de que talvez você nunca se vá, por mais que eu saiba que já passou da meia noite e a sua carruagem se perdeu na escuridão levando junto algo no qual não queria que tivesse ido. Talvez eu encontre você em um pub qualquer quando for para Indiana, e então finalmente dançaremos a valsa prometida. Poderemos partir decentemente após uns goles da nossa bebida preferida no meu quarto em Princeton. Eu deixarei a porta aberta, sem medo, para que você entre. Não faça barulho, pegue seu biscoito no pote da esquerda e me beije, de novo, nos envolvendo na tênue linha de um futuro cada vez mais presente, abaixo das luzes brancas de lâmpadas incandescentes.

Com suas mãos em meus ombros, um movimento sem significado e eu pedia para que não fosse. Pelo menos não dessa vez. Nada foi fácil todo esse tempo e eu sei que você já se acostumou com a idéia de ir. Mas para quem irei contar meus problemas e rir de coisas idiotas sobre comerciais de tevê? O seu sorriso lapidado continua ao lado da minha cama naquela foto em que estamos abraçados rindo do mundo. As conversas longas no portão da sua casa e os banhos de chuva tomados no início do ano para dar sorte. Eu gosto de imaginar que mesmo quando estivermos velhos seremos vizinhos, com casas à beira de um lago, grama cortada, suas músicas agitadas e os meus três gatos. Talvez assim eu pudesse guardar tudo o que ainda tenho para te dizer de forma mais confortável. Ou não. Tudo e nada para não ser só mais uma foto do seu passado empoeirado na sua estante. Eu sempre fui o limite da razão e você o lado sensato. Você odiando meu cabelo e eu seus sapatos. Entre as nossas confidências, seus amores e minhas decepções. Não há motivo para perder tudo isso. A não ser que você queira. Eu com os meus problemas de aceitação e você acolhedor demais. Talvez nessa vida eu tenha aceitado somente você. De todas as oportunidades que não aproveitei, a vida me dá uma nova chance antes que você vá e me deixe aqui sozinha, para recuperar um coração androide, frio e calculista que antes não soube como dizer isso à você. Eu te amo é até bastante clichê, mas digamos que seja exatamente isso. Eu espero que você entenda, e se for, que lembre-se do que digo. Entre 'amigo' e 'amor' eu prefiro um intermédio; algo perdido no meio da estrada, sem destino. Como melhor amigo, você foi o melhor amor sem ao menos saber. E eu por egoísmo talvez, não queira perder isso. Eu espero que o destino seja digno e faça com que nos encontremos sem querer por uma dessas ruas sem pavimento, barzinho de música live, uns carros futurísticos em movimento, uma guitarra que eu afine... Um roteiro de final de filme.

Parecemos iguais em tudo. Até nas gargalhadas que dávamos involuntariamente quando estávamos falando coisas idiotas por telefone em uma madrugada qualquer quando outro tipo de comunicação melhor não era possível. Estamos deixando o passado para trás e sinto que seu rosto não é o mesmo de antes. O tempo é generoso conosco; então vamos agradecer. É um alívio olhar para você todas as manhãs enquanto seu despertador não toca e saber que fiz tanta coisa errada, e mais ainda quando lembro que disse tudo na sua cara e descobrir que você também fez e que agora tudo está bem. Você me conta os seus problemas e eu os meus. Talvez eu devesse chamar isso de companheirismo, ou só mesmo de paciência. Seu escritório cheirando a tabaco (coisa que você nunca fumou) e seus sócios estão rindo. O corredor não tem fim, e eu devia estar dormindo. É adorável ouvir seu sussurrar em minha orelha gelada que desponta para fora do cobertor. É bom saber que você está bem... Sempre.
Eu procurei por você durante 17 anos e hoje estamos aqui, 17 depois. Nunca consegui te deixar não é mesmo? Nem quando você falava aquelas grosserias para mim. Sua Coca-Cola está na geladeira, daquele mesmo jeito que você me ensinou quando eu te conheci. Engraçado não é? O fato de eu saber o quanto você calçava e vestia mesmo sem te ver. Dormir na grama com você, contando as estrelas com o dedo e com medo que nascessem rugas neles. Nosso primeiro encontro, e nosso primeiro beijo. Que absurdo lembrar-me disso. Nossa viagem para NY. A mais nostalgica desde a primeira ida a Irlanda. Bebemos demais, dançamos demais, erramos a mais. E paramos como irmãos em uma cama de hotel conversando sobre tudo. E a música continua a tocar. Magic Works no talo; como somos loucos, e como somente nós entendemos isso. Lembro que passei para a faculdade de outro estado só para ficar com você, e você me achou louca, mesmo se sentindo honrado. E cá estamos, nesse quarto. Você grisalho e bem empregado e eu de costas doloridas por escrever livros demais. Bem sucedidos, bons filhos... Tudo o que queríamos.

Seis anos. O que são seis anos para nós humanos? Obviamente uma vida; mas para mim não. Para mim é diferente. Seis anos para mim significam lembranças; significam dias e mais dias perdidos em uma sentimento que um tanto nos faz bem e um tanto nos destrói, em ligações inesperadas, de surpresas boas e ruins. Um período que achei que tudo poderia dar certo ao mesmo tempo que tinha certeza que tudo já estava errado. E até hoje eu me engano nesse meio termo. A minha cama por muito tempo foi um dos poucos lugares nos quais eu consegui me aconchegar e menos ainda os amigos que pude contar todos os meus problemas. No começo a beleza do momento ofuscava a minha visão futura de o que seria de fato um futuro com você. Acho que para todos são assim, ou não; mas é o que eu acredito. Se você observar, eu cresci, amadureci e me moldei tendo você no meio de tudo isso, de alguma forma. Você estagnou, ficou parado desviando o olhar, ou talvez você tenha simplesmente mudado demais e somente agora vim a perceber isso. Eu sou nova demais para me apaixonar e velha demais para entender o que nós, jovens de hoje em dia, temos na cabeça (e no coração). Eu poderia me congelar e permanecer ali com a mesma expressão. Talvez um sorriso. Dessa forma eu não precisaria fingir para quem me visse que não estava bem. Precisei me libertar de você algumas vezes, e por muitas outras o meu instinto distinto de pessoa romântica perdida me fez voltar e me prender por conta própria nesse complexo sistema inventado por nós mesmos. Eu poderia dar diferentes nomes para esse sistema. Meia dúzia deles seriam palavrões. Palavrões daqueles novos que aprendi acreditando em você. Ou talvez nomes de cidades famosas que já sonhamos em estar, ou músicas que gostamos de escutar. Mas nada disso mudaria tudo o que realmente é. Seriam nomes diferentes para a mesma coisa. Para as mesmas mentiras, mesmas promessas, mesma perca de tempo, mesmo sentimento. Já disse diversas coisas na sua cara, pois não tenho medo. Você também disse; mas talvez a maioria dessas coisas não foram as quais queria ouvir. Lembro-me quase todos os dias do nosso encontro. Aquele encontro 'meio sensato, meio imprudente' de nossas partes, a longo esperado e que penso nunca ter vivido só para conter o coração borbulhar dentro do meu peito hora preenchido por você, hora preenchido pela distância, (maldita distância). E por mais que eu a odeie, a distância, agradeço em segredo por ela colocar alguns quilômetros entre o que talvez pudesse ser uma decepção maior. Mas eu estou viva, e querendo ou não pela força do destino, estou vivendo. Eu passei tanto tempo em meio ao sistema sem resultados, marcando em mim períodos férteis e inférteis que me deixaram confusa e me fizeram perder no tempo a única razão sobre isso que talvez tenha tido. Mas percebi que sempre soube que sou muito mais auto suficiente sem você; e querido, acredite, o meu passado eu já cobri.
Meu trevo não precisa de quatro folhas para me dar sorte, e isso é fato e não ficção, pela primeira vez em anos! E que hoje, mais do que nunca, conseguimos.

Em mim havia novamente esperança. Eu havia acordado certa de que devia falar com você. Eu sei que você me ignorou por meses a fio e a única madrugada na qual você me deu atenção, você foi doce e gentil, mas não foi o mesmo. Ela sugou de você 'o bom' e eu admiro isso nela; ela deve fazer isso mesmo, é o direito e dever dela, afinal é sorte dela ter alguém como você. Por incrível e idiota que seja eu posso ter passado os meses a partir do dia 8 de Janeiro com diversas perguntas na cabeça. Você ia e vinha na minha mente em diversos momentos, e quando você voltava ficava por um bom tempo. Ter pedido a sua presença para finalmente me ver, pessoalmente, no físico, foi algo absurdamente insano. Como eu poderia pedir algo tão sem nexo para você? Não gosto de atrapalhar 'meiados' felizes, e não quero mexer no seu futuro 'felizes para sempre' mas você continua vivo nas folhas secas dos livros que folheio tão desesperadamente. Há tanta coisa guardada dentro de mim, coisas que nunca expus para ninguém, e que pretendo deixar em segredo para sempre. Seus olhos, sim seus olhos, os mesmos olhos verdes espelhados que eu encontro em todo lugar que eu vou. Me pego rindo no meio da noite lendo suas (poucas e) significantes mensagens no meu antigo celular. A última marcava a sua ida, talvez para sempre. Mas os caminhos da vida não são retos e nem a história já tem seu enredo completo. Se tem algo nela que a faz tão fascinante é o fato dela poder mudar, o fato dela jogar o jogo tão bem que em sua primeira jogada já estamos em xeque. Eu observo você há um longo tempo. Outra pessoa entrou na minha vida e você esteve aqui para me ajudar. E como eu admiro isso. Você não foi mais um cara que mentiu para mim; não foi um idiota qualquer que sumiu e não deu explicação. Você me disse tudo (ou talvez nada) mas pelo menos fez com que eu compreende-se que não havia razão para odiar você. Eu sinto sua falta. Falta das nossas conversas idiotas e que não nos envolviam em casos de amor a distância (nos quais tanto me machuquei recentemente). Conversas saudáveis, de frutos fáceis e saborosos. Eu não vou esquecer você e por mais que eu diga isso olhando nos seus olhos, por mais que eu saiba que eu e você não vamos ser nada no futuro eu guardo todas as minhas esperanças e encaro algo mais duro do que seu distanciamento: O silêncio. Esse silêncio implacável, que renega a minha presença, que me chateia e que me faz amar você. E então sigo, sigo vendo você ao longe, dançando mais uma valsa da vida com um par no qual não sou eu. Acredite, quero tanto que você seja feliz, tanto que fique com ela. Mas na verdade, eu queria estar no lugar dela para ser feliz com você. Nada de inveja, nada de mágoa; é apenas mais um sentimento (talvez infeliz) que tenho dentro do meu peito e que gostaria de transmutar para a minha vida que nesse momento tanto precisa de você. E que as muitas linhas da vida nos enrolem e façam com que nos encontremos no momento oportuno para sermos sinceros e verdadeiros com nós mesmos.

Do que me desprende do tempo são as palavras não ditas. Aquelas que se esconderam no sentimentalismo esgotado ou falso, ou em sentimentalismo algum. Eu me guardo para o futuro na esperança de reviver meu passado, enquanto criança, aquele passado em que os filmes de dragões, super heróis e desenhos animados me faziam feliz no momento em que eu saia recitando diálogos e frases impactantes dos mesmos. O sorriso infantil eu tenho guardado em uma caixa esquecida pelas atitudes 'maduras' de quando crescemos. O que me petrifica é o fato de que se deixarmos guardado por tempo demais não seremos corajosos o suficiente para abrirmos nossa caixa de memórias somente para usufruirmos do que é bom pois estaremos corrompidos por um sistema falho e cheio de mentiras. Ao que me vale o tempo de livros antigos, histórias clássicas, e músicas de tema fácil e simplificado. Deparamos com coisas que nos fazem esquecer quem somos. Das nossas conversas com nossos sábios avós, das brincadeiras com os primos em uma tarde quente de Domingo; do que vale nós? Alguma coisa no tempo. Alguma coisa perdida dentro de nós, dentro do nosso fôlego perdido no ar poluído da cidade grande que encaramos todos os dias das janelas de nossa casa. Não posso andar para trás, mas posso deixar que minha mente vague pelo que já passou, pelo que está vivo dentro de mim. O primeiro amor é o melhor, depois deste você se apega demais e sofre, e quando tudo termina nem você mesmo sabe dizer o porquê de tudo aquilo! Ao invés de nos proibir de sair, de procurar mais pessoas, deveriam proibir àquelas da nossa infância de ir embora. Elas vão e levam parte de nós com elas. Mas eu ainda guardo seus sorrisos na minha caixa; para que sempre que eu precise eu a abra e os veja, sorrindo inocentemente para mim, de novo. Pois cabe a nós fazermos o nosso tempo e mais ainda a nós o que complementará o mesmo. No horizonte o que se vai não é a esperança, é a força que irá para voltar ao amanhecer.

Demoramos tanto para trocarmos palavras um ao outro. Depois de longos meses eu me sinto completa de novo. Sinto que ainda posso te ter em mim sem medo, que posso contar com você com o que for preciso e que não precisarei sair de onde estou para provar o sinto por você. Eu mantive em segredo esses sentimentos inertes dentro da minha personificação de sentimentalismo mútuo ao que não se conhece. Percebi que você não mudou desde que te conheci naquele início de Dezembro e que toda aquela estória de 'amadurecimento' foi somente mais uma desculpa. Era dia 6 e sim, eu me lembro claramente disso. Se não seguirmos em frente, talvez, eu conte essa história mal escrita para meus amigos de terceira idade em um clube de Domingo; ou somente guarde dentro de uma caixa com fotos e frases que eu disse pra você e você disse pra mim só para poder lembrar do quanto era bom. Eu sei que as coisas tomaram rumos incoerentes e hoje você está feliz com uma pessoa na qual te faz bem. Saiba que eu mais do que ninguém fico feliz com isso. Você não poderia passar por essa vida sem transportar amor a aqueles que merecem e se hoje eu não posso ser uma dessas pessoas eu passo o bom sacrifício desse ato àqueles que podem. Não pense que quero tirar você da sua felicidade desabafando essas palavras sem nexo assim tão de repente, mas as vezes as coisas tem que ser assim. Tem que ser ditas de forma súbita se não elas entalam nossa garganta nos fazendo chorar. E não, eu não quero chorar, pelo menos não hoje. Ao mesmo tempo que não passamos nada juntos, passamos tudo e são essas coisas que me fazem crer que posso estar aqui dizendo isso. Talvez eu não tenha coragem suficiente para dizer tudo, então ouça; ouça o máximo que puder e quando se tornar insuportável simplesmente pegue seu olhar brando e vá embora. Com que ficar entalado em mim, eu dou um jeito, arrumo um modo de me acostumar e se um dia eu tiver essa oportunidade de novo eu direi tudo, tudo sem restrições de um oceano, de um Atlântico inteiro de distância que nos separa no momento. E talvez você entenda, e talvez você me diga o que também está entalado na sua garganta. Mas se não tiver o que dizer eu vou consentir e aceitar. Eu ainda sonho com você e ainda penso nas nossas imaginações juntos. Um dia eu escrevo um livro com tudo isso e mando para você. Mas só para você. E então você colocará tudo aquilo em prática, longe de mim, só para eu não me sentir culpada e querer entrar na sua vida novamente. E mesmo quando eu me for, eu vou estar aqui. Até quando a distância se comprimir e você passar por mim, sem ao menos me reconhecer.

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